Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (UFSCar) é uma das convidadas para a sessão especial "Contexto nacional e as exigências para a pesquisa em educação (Educação Popular e Pessoas Jovens e Adultos)", que será realizada no dia 04 de outubro durante a 38a Reunião Nacional da ANPEd em São Luís do Maranhão. Confira entrevista com a pesquisadora.
Qual sua expectativa para a 38a Reunião Nacional da ANPEd?
O tema escolhido para debates e aprofundamento, na 38ª ANPEd, orienta no sentido de que se discutam, delineiem caminhos, tomem decisões, enfim, se estabeleça uma agenda para pesquisa em educação, no contexto de sérias turbulências, na sociedade brasileira. Turbulências também no contexto mundial. Espero que tenhamos força, informações, conhecimentos, propósitos sinceros, no sentido de identificar, propor e encaminhar campos e ações de pesquisa em educação que nos permitam inventar, propor, estabelecer uma sociedade, um sistema mundo a partir de nós mesmos, brasileiros, sul-americanos, habitantes do sul do mundo.
O sistema mundo estabelecido no século XVI, com a invasão dos europeus, aos territórios, modos de ser e viver, organizações políticas dos povos de AbyAiala[1] está sendo, mais uma vez abalado. Os descendentes dos que conceberam e fomentaram tal sistema mundo, continuam mantendo poder econômico, político e de governar, valendo-se de desqualificações, quando não da destruição daqueles que se lhes opõem. Esta é a forma que, ao longo dos séculos, têm, eles, utilizado para manter privilégios - desqualificação, enfraquecimento, destruição dos que não acolhem seus interesses. Infelizmente a educação, enquanto um bem e um direito público, tem sido por eles manipulada, a fim de manter ideais, bens, benefícios, privilégios que lhes garantam poder sobre a vida física, cultural, econômica dos que não fazem parte de seus grupos ou não lhes são submissos. Espero que, nesta próxima reunião, continuemos na luta por uma educação cidadã e por isso de qualidade, para cada pessoa, na sua diversidade.
Que tipo de reflexão pretende levar para a sessão especial "Contexto nacional e as exigências para a pesquisa em educação (Educação Popular e Pessoas Jovens e Adultos)"?
O tema geral, motivador de reflexões, debates, encaminhamentos é bastante amplo, o suficiente para que os diferentes GTs da ANPEd, a partir de distintas referências teórico-metodológicas e posicionamentos políticos, debatam, critiquem a contribuição de pesquisas produzidas, sobretudo no quadro dos Programas de Pós-Graduação em Educação, bem como proponham novos rumos. Eu, enquanto integrante do GT21 – Educação das Relações Étnico-Raciais, e indicada, por este e pelos GTs 03, 06, 18, 22 e 23, para integrar a mesa de debates - Contexto nacional e as exigências para a pesquisa em educação (Educação Popular e Pessoas Jovens e Adultos) -, buscarei abranger preocupações desses grupos, a partir de perspectivas que focalizem as relações étnico-raciais na sociedade e na educação. Assim sendo, tenderei a abordar questões relativas a justiça social, reconhecimento, diversidade étnico-racial, pobreza, dignidade das pessoas, escolarização, educação popular, equidade na educação, políticas de ações afirmativas.
De que forma você percebe a urgência de se debater essa questão frente à temática geral da 38a Reunião Nacional - "Democracia em risco: a pesquisa e a pós-graduação em contexto de resistência"?
Não tenho para esta 38ª Reunião uma expectativa muito diferente das que tive ao participar de reuniões passadas – intercâmbio com colegas pesquisadores/as, professores/as e estudantes-, aprendizagens com suas pesquisas, possibilidades de futuros trabalhos em colaboração e notadamente encaminhamentos para formulação de propostas e avaliação de políticas públicas para educação. Na presente reunião, espero que tenhamos lucidez, coragem, perspicácia para, a partir de nossas pesquisas, propor metas e ações que possam garantir por meio da educação para todos/as brasileiros/as valores da democracia, no sentido de igualdade de direitos para todos, coerência entre propósitos declarados, condições criadas para sua execução e objetivos consistentemente alcançados.
A produção dos pesquisadores associados à ANPEd tem, coerente aos objetivos da entidade, ao longo dos anos, oferecido suporte, encaminhamentos para proposição, discussão, avaliação de políticas públicas que visam educação de excelente qualidade para todos brasileiros/as – indígenas, afro-descendentes, euro-descendentes, descendentes de asiáticos. E também, não poderia ser diferente, para pessoas de outras nacionalidades, migrantes ou refugiados, que aqui vivam. Afinal, para os associados da ANPEd, pelo menos para grande parte, pesquisar, muito particularmente em educação, é um ato político.
