Entrevista com Antonio Carlos Amorim (UNICAMP) | Sessão Especial "Democratização da pesquisa: impacto das métricas na avaliação dos periódicos em educação" | 38a Reunião Nacional da ANPEd

A 38a Reunião da ANPEd contará com Sessão Especial do FEPAE debatendo "Democratização da pesquisa: impacto das métricas na avaliação dos periódicos em educação". Dentre os convidados estará o professor Antonio Carlos Amorim (UNICAMP). Confira entrevista com o docente e pesquisador. 

Qual sua expectativa para a 38a Reunião Nacional da ANPEd?

Minhas expectativas são as melhores possíveis frente à resistência que um evento como a Reunião Nacional da ANPEd pode significar, do ponto de vista simbólico e pragmático, dentro de todo contexto nacional que temos vivido em quase dois anos, dentro do qual temos lutado para criar formas revitalizantes de persistir com nossas críticas, resistências, tomadas de posição, ações coletivas e elaboração de propostas de futuro que nos modulem (sobre)viver aos modos de subtração dos sentidos de democracia, de participação diferenciada e de diversidade de projetos que vêm operando cotidianamente, exigindo-nos traçar linhas de fuga em multiplicidades, não retornando ao jogo de um combate que se fundamente exclusivamente em unidades monolíticas.

Que tipo de reflexão pretende levar para a sessão especial do FEPAE "Democratização da pesquisa: impacto das métricas na avaliação dos periódicos em educação"? 

Interessa-me partilhar nesta sessão especial alguns movimentos singulares que periódicos acadêmicos da área da educação vêm realizando, nos últimos anos, e destacando suas propostas de combate às avaliações 'standard', muito embora dialogando com elas e se inserindo nos sistemas que tais avaliações engendram. Serão problematizados alguns dilemas e desafios enfrentados por revistas brasileiras da área de educação, bem como as soluções encontradas, com relação aos critérios de qualidade. Tomando como exemplo uma amostra de revistas de maior impacto na área, com diversidade editorial e histórica, serão discutidos os modos de produção e as características da qualidade, que vêm sendo gestados por atravessamentos e tensões entre internacionalização versus impacto local; responsabilidade social versus circulação do conhecimento na comunidade acadêmica; política editorial seletiva versus visibilidade e quantidade de produção da área, dentre outros. A intenção é propor um mapeamento, mesmo que incipiente, do que movimenta e torna as revistas acadêmicas em educação um problema a ser pensado prospectivamente. Mais do que encontrar respostas fechadas ou propostas padronizadas, tal mapeamento fornecerá questões para gerarmos um cenário de possíveis caminhos para a área.

De que forma você percebe a urgência de se debater essa questão frente à temática geral da 38a Reunião Nacional - "Democracia em risco: a pesquisa e a pós-graduação em contexto de resistência"?

Discutir como a produção científica da área de educação está ou não articulada com contextos mais democráticos de acesso, de avaliação, de crítica e de estabelecimento de prioridades da pesquisa olhando para a sociedade em geral parece-me fundamental. Merece atenção o movimento crescente de valorização da produção científica publicada em periódicos com base em métricas de impacto relacionadas a indexadores universais e que se baseiam em critérios quantitativos objetivos, dos quais se extrairiam suas características qualitativas. Em especial para a área da educação e demais humanidades, é urgente que elaboremos formas alternativas e de resistência a tendências homogeneizantes e padronizadoras.